sábado, 18 de janeiro de 2020

O MAR ESTAVA TÃO REVOLTO, QUE TENTEI ACALMÁ-LO




No início de 2020 decido fazer um post de homenagem 

a amigos/as que me acompanharam durante 2019 

há muito que prometia à "Chica" que havia de fazer 

um post do MAR para homenagear o seu blog 

"MARES DA CHICA"






Este MAR que captei no FURADOURO 

estava bravo demais... assim como, 

algumas vezes está a minha Alma! 

Revoltada com atitudes de injustiça, falta de humanidade. 

Mas, nada posso fazer, não posso mudar o Mundo! 




Faço também homenagem a estes blogues:

MEU MAR AZUL - de Roselia Bezerra

OLHARES DA GRACINHA 

AS MINHAS IMAGENS - da Elvira

ECOS E REFLEXOS - da Ailime

porque nos seus blogues mostram os olhares 

por lugares que vão visitando e vão partilhando.




aqui a "mochileira" foi "apanhada" por uma amiga 

da fotografia, quando "Eu olhava o MAR"

Completamente abstraída do que acontecia em redor

de máquina na mão, esperando o próximo click






O MAR
Sentindo como o vento embala a espuma
Das ondas que dispersam pela areia
Escutando o murmúrio das conchas
Arrastadas como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersas

Quando eu nasci, raiava o mês de Abril,
sorrindo em flor pelos caminhos,
Nadando na oscilação das ondas,
Passadiços que me levem até ele
isolado sobre o horizonte
Por onde desejo deambular.




Recebendo a brisa no meu rosto feliz
Do mar que me aparece defronte
Dançam as ondas no meu olhar.

E olho para toda a sua imensidão
Sozinha contemplo a beleza
Sentindo no meu coração, gratidão




Regresso já pela noite, em trépidos passos incertos
Sentindo nos pés, pingos de água e areia
Meu doce olhar embala cada passo, cada instante
Na solidão da noite, sinto o meu coração feliz
Ao contemplar o horizonte vejo verdade
A vida que Deus me destinou

Grata me sinto, ao ouvir um sopro, ao ouvido
Ilusório momento neste anoitecer
Onde evocam as palavras do Senhor.



Faço também homenagem a estes blogues:

ORTOGRAFIA DO OLHAR - de Graça Pires

RIO SEM MARGENS - de Jaime Portela 

blogues de poesia, aproveitando para mostrar publicamente 

um dos cinco poemas que escrevi (O MAR) para 

o livro de poesia que foi lançado a 14 de dezembro 

e do qual falarei brevemente...




aqui, o mar já não está tão revolto, 

mas sim muito calmo, de momentos felizes 

que vivi na COSTA VICENTINA





quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

AQUELE QUE NÃO TIVER PECADO, QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA



PARA NOS CURARMOS BASTA O CONFORTO DOS OUTROS 

foi o título do post anterior e eu sei bem o que afirmo 

Domingo passado dia 12 de janeiro telefonei à minha prima, tal como faço habitualmente ao fim de semana, ela deu-me durante os últimos anos uma grande lição, mesmo num Lar há 4 anos, sozinha e abandonada, tinha uma positividade nas suas palavras que eu ficava admirada... e, juro que não entendia! Pensava muitas vezes como era possível aquela pessoa ainda ter esperança e desculpar todos que lhe faziam mal...? Ela falava sempre que queria ir para a AMÉRICA onde tem a filha e os netos... era o sonho dela! 
Queria tanto ouvir a voz dos netos, queixava-se que não conseguia falar com os netos...
Sair de cá, que nunca gostou pois a grande mágoa dela foi nunca ter conseguido desligar-se de Moçambique, onde nascemos e vivemos. Felizmente eu consegui desligar-me! Mas ela falava sempre no mesmo...Este domingo disse-me: estou constipada 
Perguntei: o que estás a tomar para a constipação? 
ela disse: Nada! eu perguntei: não fizeste a vacina da gripe? 
ela respondeu que não. Voltei a dizer-lhe: acho mal, porque a vacina é gratuita para os doentes crónicos e nós duas somos diabéticas. 
O meu GRANDE MAL... 
SEMPRE PREOCUPADA COM OS OUTROS (mesmo à distância)
muito mais do que os outros se preocupam comigo, se é que o fazem!

Mas para ela não ficar a pensar naquilo, mudei de assunto e perguntei-lhe: então e, sobre a tua ida para a América como estão as coisas? e ela num tom de voz muito "apagado" respondeu: Não posso ir, pois tenho problemas de coração e não ia aguentar uma viagem tão longa...
Hummm, muito estranho! 
Aquela alegria e excitação que ela tinha sempre que falavamos dela ir para a América, não existiu nesta resposta. Achei estranho e depois de desligar o telefone fiquei a pensar naquilo, mas... também pensei que na próxima semana ela poderia estar mais entusiasmada. 

Na 2ª feira dia 13 de janeiro, quando me ia deitar à 1h 30m da manhã, ao olhar para o telemóvel descobri 2 chamadas não atendidas de um número desconhecido às 23h 20m...esquisito, pensei eu, quem seria que me ligava àquela hora e fez duas tentativas? 
Na 3ª feira de manhã - 9h 30m vi que o mesmo número tinha já ligado às 9h 15m e liguei de volta. 
Pergunto de onde é? 
dizem-me que é de Porches. Fiquei na mesma... nada me disse aquela resposta. Expliquei que tinham ligado para mim e passam a chamada à responsável do Lar e esta diz-me se sou familiar ou amiga da Anabela? Aqui sim... a minha voz estremeceu. 
E recebi a notícia que a minha prima-irmã (como ela sempre dizia) tinha falecido, com 60 anos. Absurdo! 
Perguntei: foi assim de repente? 
e a Sra explicou como as coisas aconteceram... que a m/prima já andava há uns dias a vomitar e nesse domingo que falamos já não estava bem. Meu Deus...e ela falou comigo e nem se queixou de nada! Não me quis preocupar... 
Lá contou que na 2ª feira ela não estava bem, pediu que a deixassem ficar na cama a seguir à higiene e tiveram mesmo que chamar a ambulância e ela foi para o hospital, onde acabou por falecer, agora a sra andava a telefonar para vários números do telemóvel da Anabela pois não sabia quem era familiar ou amigo/a. 
Assim começou a minha 3ª feira...
ao longo do dia, apercebi-me que os familiares mais próximos só tiveram conhecimento depois das 15h inclusivamente o irmão dela mandou alguém dizer-me que a irmã tinha falecido, eram 16h...mas, não me disse directamente (mandou recado)! 
Através do facebook vamos vendo como as coisas correm... 

Depois há os posts de homenagem e só vejo hipocrisia, falsidade, tanta vontade de aparentar "bonito" quando nada é bonito há muito tempo. 
Mas, as pessoas que não conhecem a VERDADE, escrevem palavras de conforto e o tradicional RIP que ODEIO - em tudo querem imitar os americanos e é uma coisa tão fria chegar ali e deixar um RIP e seguir caminho, nem pensam no que escrevem, é mesmo a despachar! 

Um irmão que nunca a foi visitar durante os 4 anos que ela esteve na Santa Casa da Misericórdia...e no Lar no último ano; 
um filho que desde Agosto/2019 deixou de pagar o Lar da Mãe, ainda ficou a dever 300€ de Agosto e daí em diante nunca mais pagou e "foi roubando" o dinheiro que a Mãe tinha no Banco, estoirou com tudo e desapareceu... 
Isto é que a "matou" - o desgosto da única pessoa que vivia perto dela e que ia visitando a Mãe (poucas vezes alegando que tinha trabalho), deixou de o fazer sem nenhuma explicação... 
tal como me disseram, ela foi morrendo lentamente desde Setembro passado. 
A filha acusa a Mãe de tudo... mas precisou dela para lhe levar o filho de avião para a América! Tudo o que faz parte das boas acções as pessoas ESQUECEM RÁPIDO demais... 
agora "apontar o dedo" ao que se faz de mal, 
porque ERRAR É HUMANO, isso sim, faz-se gratuitamente e até com algum gosto, ninguém esquece.
É TRISTE... MUITO TRISTE.

Mas isso acontece com todos nós, seja em relação aos familiares como amigos e conhecidos: se fizermos o BEM ninguém quer lembrar, mas se fizermos algo MAL ... OH isso é que atiram à cara sempre!
Vou à página do irmão e que vejo?
Ui...amo-te etc e tal...as acções não o demonstram, as palavras leva-as o vento.
Mas foi uma das coisas que a minha prima me disse na nossa "última conversa" domingo passado: 
Sabes Prima, só depois de morrermos é que somos todos bons, até dizem que éramos umas santas!
AH pois é.

Vou à página da filha e que vejo?
Não tivemos um ótimo relacionamento, ela falhou muito como mãe... mas era minha mãe... 
as pessoas dizem que só valorizamos quando... não temos e concordo... 
Ela era minha mãe e eu sei que ela está em paz neste momento... mesmo que eu saiba que ela faleceu da tristeza

Vá lá, ao menos disse uma verdade: 
ela está em paz (isso nunca sabemos se está ou não) mas continuou: mesmo que eu saiba que ela faleceu da tristeza! 
AH...OK... pois foi, 
uma tristeza que era desnecessária e que poderia ter outra solução, só para a MORTE é que não há solução!

Morreu... acabou!

No entanto NINGUÉM teve o cuidado de ir à página da Anabela escrever algo para os possíveis amigos/as terem conhecimento da sua morte.
Como ninguém o fazia... 
decidi fazer eu e lá deixei umas palavras, no lugar de um comentário e alguém leu e aí o meu coração ficou um pouco mais alegre.

Acreditem, foi ontem 4ª feira 
e eu ainda não tinha conseguido deitar uma lágrima... 
eu tinha mais revolta que dor, pois é inadmissível o que certos filhos fazem àquela que andou 9 meses com eles no ventre!

Verdade... 
a Anabela podia ter ido viver com o pai da filha e serem todos felizes mas não foi, para NÃO ABANDONAR O FILHO
POIS O PAI DO FILHO NÃO LHE DEU AUTORIZAÇÃO PARA ELA SAIR DO PAÍS COM O MENINO E ELA PARA NÃO O ABANDONAR, FICOU EM PORTUGAL e tentou criar dois filhos SEM A AJUDA DOS RESPECTIVOS PAIS
é fácil.... alguém diga se é fácil...?

“Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”

Além de não ser fácil não teve a ajuda da Mãe!
A minha tia não tem desculpa do abandono que deu à filha com os dois netos sozinha.

Então, ontem à noite, ao ler palavras das pessoas amigas e colegas da Anabela, aí chorei, mas chorei de alegria, fêz-se justiça, afinal ela não era assim tão má... 
o problema dela é o mesmo que o meu:
fazemos as coisas com a melhor das intenções, preocupamo-nos com os outros, não somos falsas, somos do mesmo signo, mas somos mal compreendidas, porque algumas pessoas à nossa volta já estão com a negatividade tão aguçada que todo o bem que fazemos interpretam como mal e foi o que gostei: 
de ler as opiniões de pessoas que lidaram com a Anabela a dizerem isso mesmo!

Guardo-as para mim, vai-me fazer bem ler sempre que me recordar da minha prima-irmã, uma companheira de tantas aventuras! 
Ambas temos um espírito aventureiro. 
Ela vinha muitas vezes a Lisboa para estar COMIGO, não queria ver mais ninguém, íamos ao cinema, almoçavamos juntas, tão bons momentos passamos as duas. 
Éramos felizes juntas, ríamos muito juntas, tinhamos os mesmos gostos. 
Fui visitar a minha Anabela quando estava na Santa Casa da Misericórdia de Estômbar, não fico com remorsos de nada, pois o meu lema é... estar com, visitar, procurar as pessoas enquanto estão vivas porque depois de mortas nada há a fazer. 
Até as senhoras que trabalhavam lá, souberam que vivo para estes lados disseram: veio de propósito para visitar a sua prima? 
Olhe, é a primeira pessoa da família dela que a visita aqui...
e todos viram o brilho no olhar da Anabela, a querer mostrar-me o quarto onde dormia, onde comia, estava tão feliz e é isso que me interessa: proporcionar momentos de felicidade a quem eu gosto, a quem merece e a quem precisa. 

Muito mais haveria para dizer... mas, não vale a pena lembrar coisas menos boas, apenas deixo aqui esta homenagem à minha querida prima-irmã, muito mais irmã que irmãs a sério! 

Descansa em Paz!
Foste ter com o Michel, foste ter com o Terry e com o teu Pai. 
Espero que te divirtas na companhia deles.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

PARA NOS CURARMOS BASTA O CONFORTO DOS OUTROS




Começo o NOVO ANO - 2020 - com um post 

onde quero lembrar o quanto sou FELIZ com tão pouco! 

Em 2019 andei por várias partes do Mundo 

e, hoje, fui buscar estas três imagens que captei 

num lugar que ADORO, em contacto com a NATUREZA. 

Cada dia que passa, procuro mais a "minha companhia" 

certo e seguro que ando sempre com DEUS comigo, 

mas fisicamente só, é tão bom. 

Aqui neste lugar ermo, onde uma tempestade assolava 

a região, eu não senti medo por estar só...

não se via ninguém. Vou caminhando, procurando 

perspectivas para fotografar e sentindo o silêncio 

do lugar, parece que levito e esqueço tudo que existe. 

Já viajei com outras pessoas, mas a desilusão foi crescendo, 

bem diz o ditado: "Antes só que mal acompanhada"! 

No início de cada ano as pessoas fazem uma lista de coisas 

que querem fazer...eu não faço listas, no meu íntimo 

só peço a Deus que me deixe concretizar algumas 

viagens e ao longo do ano, vão acontecendo. 

Quando 2019 começou tinha já dado o 

"sinal - pagamento inicial" da primeira viagem, 

que seria a 9 de Fevereiro de 2019... o resto veio depois.




Mas, a Vida é muito mais que viagens, 

para mim é também estar em Paz comigo mesmo, 

com a minha consciência. Quem trabalha num Hospital 

tem que ter uma sensibilidade diferente e eu trabalhei 

e hoje posso dizer que me orgulho do meu trabalho, 

dava amor sem me aperceber e recebia também! 

Enquanto trabalhei directamente com "seres humanos" 

fui feliz, quando comecei a trabalhar com papéis, 

começaram as depressões, só me apercebi muito mais 

tarde, a razão da minha Vida ter mudado.

Hoje - 3 de Janeiro foi ao programa da Cristina, 

um Padre, Capelão de um Hospital e ouvi-o com atenção. 

Relatou casos que aconteceram com ele, e afirmou que quando 

se morre o último sentido que ainda fica é da audição 

por isso diz que muitas vezes sabe de doentes que estão 

em fase terminal e as famílias junto da cama a discutir 

coisas desnecessárias, não imaginando que o doente 

pode estar a ouvir. Também falou sobre o "dar a mão" 

nos últimos minutos de Vida, para a pessoa morrer em paz. 

Ora, isso aconteceu várias vezes comigo no Hospital Curry Cabral,

 jamais esquecerei uma doente ainda jovem, 30 e poucos anos 

que fez vários internamentos com uma cirrose hepática

e faleceu num turno da noite que fiz, estive de mão dada 

com ela até ao fim... acreditem, tenho pensado muito nisso 

e digo para mim mesma: quem me dera que nos meus últimos

 momentos alguém me fizesse o mesmo 
(deve ser tão reconfortante)

Como não me recordar dos últimos minutos da minha 

sobrinha com 26 anos? Daí esta paixão especial por ela, 

não é qualquer pessoa que tem essa coragem e eu ali estive 

de mão dada com ela até ao fim e ela sabe muito bem quem 

ali esteve, pois ela ouvia a minha voz, ela fechou os olhos em paz! 

Ia falando com ela e entreguei-a aos avós, disse mesmo: 

recebam a vossa neta, cuidem dela! 

Durante muito tempo senti uma revolta por ela partir tão cedo 

e ainda sinto, mas naquele momento, eu também estava 

em paz pois soube como tudo acabou, 

eu estava presente e ela não partiu como muitos, abandonada! 

. . . / . . . 

Olho para esta imagem e penso tantas vezes, 

como seria bom ela ainda cá estar, com certeza que 

eu a levaria comigo nestes passeios.




Hoje li um artigo do Mia Couto e transcrevo algumas 

partes, e digo-vos: Oh, como o entendo!

Margarida Maralto espreitava pela janela, mas não eram nuvens que ela queria ver. Esperava pela chegada do marido. Sabia que ele a estava a trair com outra, algures num quarto da cidade. Margarida tinha os olhos em maré vaza. Mas fazia de conta de que não havia espera, de que não havia marido, de que não havia cidade. E de que ela mesmo deixava de haver. Era, então, que o seu menino a salvava. Penteava a mãe, dizia ele, para que ela nunca morresse. Nesses cuidados, a vizinha ficava curada das suas pequenas doenças. Mais do que curada: Margarida ficava eterna.
Para nos curarmos basta o conforto dos outros. 
Até que um dia se descobriu que Júlio sofria do coração. Uma válvula, disseram. Eu não queria ouvir: doía-me saber que Júlio estava doente. E doía-me mais ainda saber que o coração tem peças. Primeiro, neguei. Havia um erro. O médico não conhecia realmente o meu amigo para lhe diagnosticar um defeito cardíaco. O coração de Júlio era infinito. Aos poucos, porém, o diagnóstico foi ficando verdade. Júlio ria-se sorvendo o ar com pequenos goles. E ficava cansado só de sonhar. Até que a alma se tornou um peso. Um dia foi a vida quem assinalou falta contra Júlio Maralto. 
Quando me aproximei, porém, ela segurou-me no braço e fixou-me longamente para murmurar: agora é que viver já não tem cura. Agora, todas as tardes, vou visitar Margarida, mirrada dentro do vestido negro. Contempla os muros como se esperasse que eles florissem e ergue o pescoço para dizer que está pronta. Empunho a escova e penteio os seus cabelos cada dia mais brancos. A vizinha não demora a adormecer. E eu me retiro, pé ante pé, para não interromper as eternidades da vizinha Margarida Maralto.
(Crónica publicada na VISÃO 1399 de 26 de dezembro)
VERDADE: para nos curarmos basta o conforto dos outros! 

É isso que falta na minha Vida, ser confortada pelos familiares.

Por isso, a minha dor de alma. 

No texto também relembrei a minha sobrinha, 

pois o problema que a "levou" foi do coração.