sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

PARA NOS CURARMOS BASTA O CONFORTO DOS OUTROS




Começo o NOVO ANO - 2020 - com um post 

onde quero lembrar o quanto sou FELIZ com tão pouco! 

Em 2019 andei por várias partes do Mundo 

e, hoje, fui buscar estas três imagens que captei 

num lugar que ADORO, em contacto com a NATUREZA. 

Cada dia que passa, procuro mais a "minha companhia" 

certo e seguro que ando sempre com DEUS comigo, 

mas fisicamente só, é tão bom. 

Aqui neste lugar ermo, onde uma tempestade assolava 

a região, eu não senti medo por estar só...

não se via ninguém. Vou caminhando, procurando 

perspectivas para fotografar e sentindo o silêncio 

do lugar, parece que levito e esqueço tudo que existe. 

Já viajei com outras pessoas, mas a desilusão foi crescendo, 

bem diz o ditado: "Antes só que mal acompanhada"! 

No início de cada ano as pessoas fazem uma lista de coisas 

que querem fazer...eu não faço listas, no meu íntimo 

só peço a Deus que me deixe concretizar algumas 

viagens e ao longo do ano, vão acontecendo. 

Quando 2019 começou tinha já dado o 

"sinal - pagamento inicial" da primeira viagem, 

que seria a 9 de Fevereiro de 2019... o resto veio depois.




Mas, a Vida é muito mais que viagens, 

para mim é também estar em Paz comigo mesmo, 

com a minha consciência. Quem trabalha num Hospital 

tem que ter uma sensibilidade diferente e eu trabalhei 

e hoje posso dizer que me orgulho do meu trabalho, 

dava amor sem me aperceber e recebia também! 

Enquanto trabalhei directamente com "seres humanos" 

fui feliz, quando comecei a trabalhar com papéis, 

começaram as depressões, só me apercebi muito mais 

tarde, a razão da minha Vida ter mudado.

Hoje - 3 de Janeiro foi ao programa da Cristina, 

um Padre, Capelão de um Hospital e ouvi-o com atenção. 

Relatou casos que aconteceram com ele, e afirmou que quando 

se morre o último sentido que ainda fica é da audição 

por isso diz que muitas vezes sabe de doentes que estão 

em fase terminal e as famílias junto da cama a discutir 

coisas desnecessárias, não imaginando que o doente 

pode estar a ouvir. Também falou sobre o "dar a mão" 

nos últimos minutos de Vida, para a pessoa morrer em paz. 

Ora, isso aconteceu várias vezes comigo no Hospital Curry Cabral,

 jamais esquecerei uma doente ainda jovem, 30 e poucos anos 

que fez vários internamentos com uma cirrose hepática

e faleceu num turno da noite que fiz, estive de mão dada 

com ela até ao fim... acreditem, tenho pensado muito nisso 

e digo para mim mesma: quem me dera que nos meus últimos

 momentos alguém me fizesse o mesmo 
(deve ser tão reconfortante)

Como não me recordar dos últimos minutos da minha 

sobrinha com 26 anos? Daí esta paixão especial por ela, 

não é qualquer pessoa que tem essa coragem e eu ali estive 

de mão dada com ela até ao fim e ela sabe muito bem quem 

ali esteve, pois ela ouvia a minha voz, ela fechou os olhos em paz! 

Ia falando com ela e entreguei-a aos avós, disse mesmo: 

recebam a vossa neta, cuidem dela! 

Durante muito tempo senti uma revolta por ela partir tão cedo 

e ainda sinto, mas naquele momento, eu também estava 

em paz pois soube como tudo acabou, 

eu estava presente e ela não partiu como muitos, abandonada! 

. . . / . . . 

Olho para esta imagem e penso tantas vezes, 

como seria bom ela ainda cá estar, com certeza que 

eu a levaria comigo nestes passeios.




Hoje li um artigo do Mia Couto e transcrevo algumas 

partes, e digo-vos: Oh, como o entendo!

Margarida Maralto espreitava pela janela, mas não eram nuvens que ela queria ver. Esperava pela chegada do marido. Sabia que ele a estava a trair com outra, algures num quarto da cidade. Margarida tinha os olhos em maré vaza. Mas fazia de conta de que não havia espera, de que não havia marido, de que não havia cidade. E de que ela mesmo deixava de haver. Era, então, que o seu menino a salvava. Penteava a mãe, dizia ele, para que ela nunca morresse. Nesses cuidados, a vizinha ficava curada das suas pequenas doenças. Mais do que curada: Margarida ficava eterna.
Para nos curarmos basta o conforto dos outros. 
Até que um dia se descobriu que Júlio sofria do coração. Uma válvula, disseram. Eu não queria ouvir: doía-me saber que Júlio estava doente. E doía-me mais ainda saber que o coração tem peças. Primeiro, neguei. Havia um erro. O médico não conhecia realmente o meu amigo para lhe diagnosticar um defeito cardíaco. O coração de Júlio era infinito. Aos poucos, porém, o diagnóstico foi ficando verdade. Júlio ria-se sorvendo o ar com pequenos goles. E ficava cansado só de sonhar. Até que a alma se tornou um peso. Um dia foi a vida quem assinalou falta contra Júlio Maralto. 
Quando me aproximei, porém, ela segurou-me no braço e fixou-me longamente para murmurar: agora é que viver já não tem cura. Agora, todas as tardes, vou visitar Margarida, mirrada dentro do vestido negro. Contempla os muros como se esperasse que eles florissem e ergue o pescoço para dizer que está pronta. Empunho a escova e penteio os seus cabelos cada dia mais brancos. A vizinha não demora a adormecer. E eu me retiro, pé ante pé, para não interromper as eternidades da vizinha Margarida Maralto.
(Crónica publicada na VISÃO 1399 de 26 de dezembro)
VERDADE: para nos curarmos basta o conforto dos outros! 

É isso que falta na minha Vida, ser confortada pelos familiares.

Por isso, a minha dor de alma. 

No texto também relembrei a minha sobrinha, 

pois o problema que a "levou" foi do coração.

9 comentários:

  1. Tulipa, que post mais lindo! Quanta sensibilidade e emoção nas tuas palavras! Concordo contigo... Dar conforto aos outros faz bem e receber igualmente. O caso de tua sobrinha foi mesmo uma perda triste. Também perdi uma mana que tinha apenas 19 anos, e isso há muitos anos, mas as saudades sempre ficam! beijo ,tudo de bom adorei as fotos que falam tanto!!! chica

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  2. Magnífica postagem, querida amiga Tulipa! Gostei muito do teu texto e da belíssimas imagens, certamente homenagem ao Ano Novo. Parabéns!
    Meus votos de um ano de 2020 com saúde, amor, harmonia e paz, junto aos seus.
    Feliz Ano Novo, Tulipa!
    Um beijo.

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  3. Bom dia, querida amiga Tulipa!
    Cuidar do outro traz um beneficio tão grande em todos os niveis do nosso viver.
    Gostei do abrir do seu ❤.
    Todos temos dores de alma.
    Que Deus cure seu ❤, minha querida!
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno

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  4. Estamos tão habituados às tuas fotografias e quanto muito aos textos informativos que as acompanham, que ficamos sem palavras quando lemos e relemos e voltamos a ler as palavras em forma de sentidos que aqui deixas.

    Mesmo quem não te conheça penso que ficou a conhecer bastante depois de absorver a forma como te conseguiste expressar, já que não é fácil, não é nada fácil, pensar quanto mais escrever sobre o que aqui escreves e descreves. Uma excelente maneira de iniciares o Ano nos teus blogues, mas este post é muito mais que isso: é um grito de alerta, um aviso de que a Vida é tão frágil que não vale a pena conflituar, simplesmente usufruir do que melhor temos: respirar e olhar o Mundo.

    Sei que é o que fazes: a Paz muitas vezes é o ponto de partida, pois até a saúde melhora com a paz e o sossego. Excelente também o pedacinho de texto e de vida que foste buscar ao teu conterrâneo Mia Couto. Também não sabia isso da audição, obrigado pela informação...

    Se eu não soubesse que tens outros posts de grande qualidade neste e noutros blogues diria que só por teres feito este post vale a pena continua a "comunicar" com os outros. Obrigado. Bom Ano e que continues a viajar e a sonhar!

    PS: as fotos parece que foram feitas de propósito para este texto. Parabéns!

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  5. Que o novo ano seja de paz interior e felicidade.
    Bjs, boa semana

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  6. Um post cheio de sensibilidade e nostalgia. Gostei muito porque tudo leva a uma reflexão…
    Um beijo.

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  7. Boa tarde Tulipa,
    Costuma dizer-se que nem tudo são rosas e estas também têm os seus espinhos.
    Tente lembrar-se das coisas boas que lhe acontecerem ao longo do ano, porque o futuro a Deus pertence.
    Há momentos em que o coração chora, mas temos que saber ir em frente sem desânimos, por mais difícil que seja o caminho.
    Beijinhos,
    Ailime

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  8. Uma reflexão muito importante e bonita!
    Dar e receber são os verbos perfeitos.

    Beijinhos, Tulipa!

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  9. Dar é o meu verbo preferido e fico feliz por saber que a minha amiga o conjuga tão bem!!! Bj

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